A parábola da qual
vamos tratar neste estudo bíblico apresenta-se no Evangelho de Lucas 16: 19 a
31. Ela contém ensinamentos que são pertinentes desde a época de Jesus até os
nossos dias. Vamos, então, ao estudo.
Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e
vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um
certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele. Lucas 16:19 e 20
A primeira coisa que
me vem a mente é por que Jesus escolheu um nome para essa parábola? Por que Ele
não disse apenas havia um rico e um mendigo para exemplificar algo do Reino de
Deus? Isso quer dizer que Ele não se referia a uma riqueza ou pobreza física,
esse não era o sentido que Jesus queria mostrar aqui. A intenção de Jesus era
ser bem específico, pois o nome Lázaro demonstra isso. Esse nome tem por
significado miserável, aquele que tem chagas ou lepra.
Jesus queria mostrar que
de um lado estava alguém que tinha chagas e do outro lado alguém que era rico,
tinha fartura. Se olharmos para o sentido físico, não podemos ver uma razão
para essas duas figuras estarem opostas, mas se aplicarmos o sentido espiritual
podemos perceber uma lógica para as duas figuras.
Jesus compara esse
homem rico à um povo rico, não de bens materiais mas de bênçãos espirituais e a
maior delas é o próprio Evangelho. Existe um povo a quem a salvação foi
primeiro anunciada, este povo é o judeu – Romanos 1: 16. Assim também o
Salvador do mundo todo, primeiramente foi prometido para salvar Israel – Atos
13: 22 e 23.
O apóstolo Paulo conta
detalhadamente como Deus enviou Jesus primeiramente aos judeus em Atos 13: 34 a
39 para justificação dos que Nele crêem. Pelo fato do judeu poder receber a
promessa antes, isso faz desse povo ter uma posição privilegiada sobre todos os
habitantes do mundo, justificando assim o que fora dito por Jesus que “aquele
homem vivia esplendida e regaladamente”.
Durante seu ministério
aqui na terra, o Senhor Jesus escolhe doze discípulos, todos eram judeus.
Depois disso, Ele instrui os discípulos a saírem para pregar o Evangelho, e de
forma bem explicita ordena que seja pregado primeiramente aos judeus – Mateus
10: 5 e 6. Após a morte e ressurreição de Jesus, eles perderam a essa posição
de privilégio? Não. Ao enviar os discípulos como testemunhas, Cristo disse:
ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até
os confins da terra – Atos 1: 8. É bem verdade que o Evangelho espalhou-se por
todo o mundo, porém foi exatamente nessa ordem que aconteceu.
A veste do homem rico
citado na parábola por Jesus, faz menção à veste do sacerdote de Israel. Veja
em Êxodo 28: 2 a 5
Veremos agora, quanto
o povo judeu era privilegiado por viver sobre promessas, tais como esta:
E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o
Libertador, E desviará de Jacó as impiedades. Romanos 11:26
Jacó aqui significa
toda a casa de Israel, para quem foi prometido ser livre do pecado por
intermédio de um Salvador. Olhando fixamente para este momento da humanidade,
sem considerar outros tempos futuros, podemos então distinguir uma divisão
clara entre um povo santificado (ou que deveria ser santificado) e outro povo
perdido em pecados, estes são os gentios os quais não tinham nenhuma promessa.
E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os
próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. Lucas 16:21
Segundo o ministério
da lei, os gentios não tinham sequer a esperança de salvação antes de Jesus vir
cumprir o plano de Deus para a redenção da humanidade. Como mostra o Salmo 10: 16:
O Senhor é Rei eterno; da sua terra perecerão os gentios.
Sentença sobre a terra como um todo, a terra criada por
Jeová. E mais uma vez ele confirma que suas bênçãos são exclusivas para Israel:
E habitarei no meio dos filhos de Israel, e lhes serei o seu Deus - Êxodo 29:45
Sem esperanças, os
gentios alimentavam-se de qualquer migalha. Foi essa a expressão da mulher
Cananéia em Mateus 15: 22 a 28.
Seria então essa a
razão do nome tão específico escolhido por Jesus para usar nesta parábola? De
um lado alguém rico por promessas e bênçãos, do outro alguém miserável e cheio
de chagas.
A própria Bíblia
explica o que são as chagas. Em 1 Reis 8: 38 fala a respeito de uma chaga que
está no coração e no 39 se refere a perdão. Obviamente está se referindo a pecado
do coração. Também Davi se refere a ele mesmo como um homem de chagas por uma
loucura, a descrição perfeita de um homem que perde completamente a razão e
adultera, isso está em Salmos 38: 1 a 5.
Jesus ainda diz na
parábola sobre alguns cães que lambem as chagas. A Bíblia esclarece quem são: Todos
os seus atalaias são cegos, nada sabem; todos são cães mudos, não podem ladrar;
andam adormecidos, estão deitados, e gostam do sono. E estes cães são gulosos, não se podem fartar; e eles
são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho,
cada um para a sua ganância, cada um por sua parte. Isaías 56:10,11
Pastores que nada
compreendem porque não havia luz em seus olhos e mente, gostavam de, em nome da
religião, sugar as pessoas insaciavelmente. Suas pregações não produziam e até
hoje não produzem vida porque permitem e concordam com o pecado. Os pastores da
antiga aliança não podiam arrancar o pecado, só lamber, pois Cristo que nos
mostra a cruz não estava lá. Hoje temos a manifestação de Cristo, mas alguns
preferem andar segundo as ações daqueles pastores incentivando o pecado.
Quando um pastor
incentiva o pecado? Quando prega o reino da matéria colocando o mundo no
coração do homem. O antigo testamento foi escrito para pessoas que querem
promessas terrenas, nisto não está a verdade. É por isso que a Bíblia resume a verdade
ao ministério de Cristo e exclui dela o ministério da lei – João 1: 17.
Percebemos no Novo
Testamento que a pregação de Cristo leva as pessoas a olhar para o reino
celestial, a partir do Evangelho de Mateus sem nenhuma variação. Nas palavras
de Jesus, se nosso tesouro está no céu, também ali estará o nosso coração, e
que não devemos ajuntar tesouros aqui na terra para que nosso coração fique
preso – Mateus 6: 19 a 21.
Depois de toda essa
explicação que traz uma distinção clara à respeito do Antigo e Novo Testamento,
uma provável dúvida seria: “Por que Deus o Pai enviaria Jesus primeiramente à
casa de Israel?”. Possivelmente algumas pessoas se contentariam com a
explicação de que Jesus precisava cumprir as Escrituras, e de fato como o
Messias prometido, tudo o que acerca Dele estava escrito precisava se cumprir.
Mas existe outra
questão que está contida na expressão de Jesus Cristo quando se refere à
Israel. Veja em Mateus 15:24, Ele diz: “ovelhas perdidas da casa de Israel” e
também no Evangelho de Mateus 9: 36 conta que Jesus vê esse povo como “ovelhas
que não tem pastor”. Sabemos que essas coisas foram ditas em território
Israelense, sobre o judeu e para judeus (os discípulos).
Olhando para a Palavra
de Deus, não consigo ver outra explicação senão a que Jesus, por compaixão de
um povo perdido sem pastor, veio primeiramente a eles. Cristo conhecia o reino
espiritual e se Ele considerava assim, sabia bem o que estava falando.
Então, conforme a parábola,
é neste momento da história, quando Jesus vem à terra, que tudo muda de figura.
E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio
de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e
viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. Lucas 16:22,23
Aqueles a quem a
promessa de um Salvador foi feita, não quiseram Jesus – João 1: 11. Diante de
um Messias pobre, pacificador, não envolvido com a política da época, nem com
qualquer outro interesse terreno, este povo deu preferência às promessas que
havia no Antigo Testamento amando o mundo e não o céu.
Não posso dizer que
todos os judeus agiram dessa forma, pois os onze discípulos O receberam
primeiramente, e depois outros a quem foi pregado o Evangelho também foram
agregados à salvação.
Então aquele que era
rico em vida, na sua morte foi ao Hades. Sabemos pela Bíblia que a salvação
opera pela fé em Jesus Cristo,
assim, não importa o quanto a pessoa viveu na lei, ou se ela era religiosa, se
servia algum deus, se cometia boas ações. A salvação passa exclusivamente por Jesus (Atos 4:12), e os judeus O rejeitaram.
Já o mendigo, a
Parábola diz que “morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão”. Considero
duas mortes nesse trecho, a primeira que é a conversão onde o mendigo olha para
o Salvador e recusa o mundo, e a segunda morte que vai trazer a figura de Abraão
no lugar de Deus o Pai. Você pode ver esta relação em Hebreus 11: 17 a 19.
Lázaro é salvo por
crer no Salvador, o povo gentio recebe Cristo como Senhor enquanto os judeus O
desprezam. Mesmo sem promessas, Jesus alcançou os gentios e eles O receberam
por fé. Agora já não há distinção de um povo escolhido e outro não, como está
claro em Efésios 2: 14 e 15.
Agora cada um
encontra-se em um lugar distinto. Tão rapidamente quanto diz na parábola pela
expressão “erguendo os olhos”, o rico se viu no lugar onde há tormento. Já
Lázaro foi levado pelos anjos ao céu. Não esperaram, nem dormiram.
E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a
Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque
estou atormentado nesta chama. Lucas 16:24
Neste versículo 24
vemos uma ligação entre esta parábola e a discussão entre Jesus e os judeus que
não criam Nele relatada em João 8. O fato do rico chamar Abraão de Pai é a
primeira indicação. Aqui, Jesus está mostrando claramente que está falando do
judeu, pois eles se consideravam filhos de Abraão (João 8:33). Como se Cristo
dissesse: “Vocês se acham filhos de Abraão, mas se não crerem em mim, vão
terminar no Hades”( João 8: 24, 39 e 40).
Para que creiam, Jesus
descreve os tormentos como fogo, sede e falta de água que, no inferno,
enfrentarão os que não creram Nele. E mesmo depois de ter dito isso, eles
continuavam desprezando o Salvador do Mundo. Mas qual seria a razão pela qual
eles insistiam em não crer?
Receber Jesus Cristo
significava romper com a lei, desligar-se do que lhes conferia status, muitos
privilégios. Ora, desde garotos estes eram preparados para alcançar esta
posição! Jesus significava viver diferente, se submeter a uma vida limpa não de
aparência, mas em verdade. Para seguir Jesus era (e ainda é) necessário pagar
um alto preço de despojamento. Os templos, o círculo de convivência, o respeito
que as pessoas tinham pelas seitas judaicas, tudo isso e muito mais teria que
ficar para trás para aquele que quisesse ouvir e reconhecer Jesus Cristo como
seu Senhor.
E eu vos digo: Granjeai
amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos
recebam eles nos tabernáculos eternos. Lucas 16:9.
Em outras palavras, “se desfaçam
das riquezas terrenas para receber aquela que é eterna”.
Esse ato de vender as
riquezas terrenas para adquirir as riquezas celestiais só faz sentido para
aquele que ouve e atenta à Palavra de Deus. Aquele que não escuta atentamente
não pode ter a certeza de que existe uma riqueza bem maior da qual vale a pena
se desfazer de tudo aqui para ganhá-la. Sem essa certeza, como tomar tal
decisão?
É por isso que o
versículo seguinte completa o mesmo raciocínio: Disse, porém, Abraão: Filho,
lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e
agora este é consolado e tu atormentado. Lucas 16:25
Estejamos atentos a
estas palavras de Jesus que exemplifica com a decisão do judeu, mas que serve
para todo aquele que age semelhantemente e embora tenha a Palavra à sua
disposição, se despoja dela trocando-a por outros tesouros materiais e
passageiros.
E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que
os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá
passar para cá. Lucas 16:26
Uma vez que uma pessoa
fez sua escolha em vida, já está determinado o que encontrará na morte. Aquele
que preferiu bens ou privilégios na terra à Jesus Cristo, será como aconteceu
com rico por toda a eternidade. Mas se preferiu despojar-se e crer como Lázaro,
também viverá como a parábola descreve para sempre. Não há chance de mudar
durante a eternidade. É necessário ouvir a mensagem da salvação e do Salvador
agora.
E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho,
a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. Lucas
16:27-29
O rico pede à Abraão
que envie Lázaro, estando morto, à casa de seu pai para falar que existe um
inferno, que precisam se despojar, crer, etc. Então Abraão responde: eles tem a
lei e os profetas. Os judeus tem a lei e não a ouve, eles tem os profetas e
também não os ouve, porque tanto a lei como os profetas trazem as evidências
suficientes que Jesus é o Messias prometido à Israel e mesmo assim eles não
ouvem. Veja que, através dessa parábola, Jesus mostrou o que disse em João 5: 39
e 40: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida
eterna, e são elas que de mim testificam. E não quereis
vir a mim para terdes vida.”
E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter
com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e
aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite. Lucas 16:29-31
Jesus está dizendo aos
judeus: “Eu vou morrer e ressuscitar, mas mesmo assim vocês não crerão em mim. Mesmo
após a minha ressurreição não ouvirão. Esta é a prova de que vocês não atentam com
sinceridade à lei e os profetas que de mim testificam”.
O povo judeu, amando a
terra e as coisas aparentes seguiu uma religião vazia. Não viram a verdade que estava
em Jesus Cristo, ou se viram, não se importaram. Mas a decisão de não crer, de não
se despojar das coisas desta vida passageira estabelece um peso para a eternidade.
Que nós, possamos olhar
atentamente para Cristo que é a verdade e fielmente segui-Lo como Ele nos ensinou.
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