5 de jun. de 2020

A PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO



A parábola da qual vamos tratar neste estudo bíblico apresenta-se no Evangelho de Lucas 16: 19 a 31. Ela contém ensinamentos que são pertinentes desde a época de Jesus até os nossos dias. Vamos, então, ao estudo.

Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele. Lucas 16:19 e 20

A primeira coisa que me vem a mente é por que Jesus escolheu um nome para essa parábola? Por que Ele não disse apenas havia um rico e um mendigo para exemplificar algo do Reino de Deus? Isso quer dizer que Ele não se referia a uma riqueza ou pobreza física, esse não era o sentido que Jesus queria mostrar aqui. A intenção de Jesus era ser bem específico, pois o nome Lázaro demonstra isso. Esse nome tem por significado miserável, aquele que tem chagas ou lepra.
  
Jesus queria mostrar que de um lado estava alguém que tinha chagas e do outro lado alguém que era rico, tinha fartura. Se olharmos para o sentido físico, não podemos ver uma razão para essas duas figuras estarem opostas, mas se aplicarmos o sentido espiritual podemos perceber uma lógica para as duas figuras.

Jesus compara esse homem rico à um povo rico, não de bens materiais mas de bênçãos espirituais e a maior delas é o próprio Evangelho. Existe um povo a quem a salvação foi primeiro anunciada, este povo é o judeu – Romanos 1: 16. Assim também o Salvador do mundo todo, primeiramente foi prometido para salvar Israel – Atos 13: 22 e 23.

O apóstolo Paulo conta detalhadamente como Deus enviou Jesus primeiramente aos judeus em Atos 13: 34 a 39 para justificação dos que Nele crêem. Pelo fato do judeu poder receber a promessa antes, isso faz desse povo ter uma posição privilegiada sobre todos os habitantes do mundo, justificando assim o que fora dito por Jesus que “aquele homem vivia esplendida e regaladamente”.

Durante seu ministério aqui na terra, o Senhor Jesus escolhe doze discípulos, todos eram judeus. Depois disso, Ele instrui os discípulos a saírem para pregar o Evangelho, e de forma bem explicita ordena que seja pregado primeiramente aos judeus – Mateus 10: 5 e 6. Após a morte e ressurreição de Jesus, eles perderam a essa posição de privilégio? Não. Ao enviar os discípulos como testemunhas, Cristo disse: ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra – Atos 1: 8. É bem verdade que o Evangelho espalhou-se por todo o mundo, porém foi exatamente nessa ordem que aconteceu.

A veste do homem rico citado na parábola por Jesus, faz menção à veste do sacerdote de Israel. Veja em Êxodo 28: 2 a 5

Veremos agora, quanto o povo judeu era privilegiado por viver sobre promessas, tais como esta:

E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E desviará de Jacó as impiedades. Romanos 11:26

Jacó aqui significa toda a casa de Israel, para quem foi prometido ser livre do pecado por intermédio de um Salvador. Olhando fixamente para este momento da humanidade, sem considerar outros tempos futuros, podemos então distinguir uma divisão clara entre um povo santificado (ou que deveria ser santificado) e outro povo perdido em pecados, estes são os gentios os quais não tinham nenhuma promessa.

E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. Lucas 16:21

Segundo o ministério da lei, os gentios não tinham sequer a esperança de salvação antes de Jesus vir cumprir o plano de Deus para a redenção da humanidade. Como mostra o Salmo 10: 16: O Senhor é Rei eterno; da sua terra perecerão os gentios.

Sentença sobre a terra como um todo, a terra criada por Jeová. E mais uma vez ele confirma que suas bênçãos são exclusivas para Israel: E habitarei no meio dos filhos de Israel, e lhes serei o seu Deus - Êxodo 29:45
Sem esperanças, os gentios alimentavam-se de qualquer migalha. Foi essa a expressão da mulher Cananéia em Mateus 15: 22 a 28.

Seria então essa a razão do nome tão específico escolhido por Jesus para usar nesta parábola? De um lado alguém rico por promessas e bênçãos, do outro alguém miserável e cheio de chagas.

A própria Bíblia explica o que são as chagas. Em 1 Reis 8: 38 fala a respeito de uma chaga que está no coração e no 39 se refere a perdão. Obviamente está se referindo a pecado do coração. Também Davi se refere a ele mesmo como um homem de chagas por uma loucura, a descrição perfeita de um homem que perde completamente a razão e adultera, isso está em Salmos 38: 1 a 5.

Jesus ainda diz na parábola sobre alguns cães que lambem as chagas. A Bíblia esclarece quem são: Todos os seus atalaias são cegos, nada sabem; todos são cães mudos, não podem ladrar; andam adormecidos, estão deitados, e gostam do sono. E estes cães são gulosos, não se podem fartar; e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte. Isaías 56:10,11

Pastores que nada compreendem porque não havia luz em seus olhos e mente, gostavam de, em nome da religião, sugar as pessoas insaciavelmente. Suas pregações não produziam e até hoje não produzem vida porque permitem e concordam com o pecado. Os pastores da antiga aliança não podiam arrancar o pecado, só lamber, pois Cristo que nos mostra a cruz não estava lá. Hoje temos a manifestação de Cristo, mas alguns preferem andar segundo as ações daqueles pastores incentivando o pecado.

Quando um pastor incentiva o pecado? Quando prega o reino da matéria colocando o mundo no coração do homem. O antigo testamento foi escrito para pessoas que querem promessas terrenas, nisto não está a verdade. É por isso que a Bíblia resume a verdade ao ministério de Cristo e exclui dela o ministério da lei – João 1: 17.

Percebemos no Novo Testamento que a pregação de Cristo leva as pessoas a olhar para o reino celestial, a partir do Evangelho de Mateus sem nenhuma variação. Nas palavras de Jesus, se nosso tesouro está no céu, também ali estará o nosso coração, e que não devemos ajuntar tesouros aqui na terra para que nosso coração fique preso – Mateus 6: 19 a 21.

Depois de toda essa explicação que traz uma distinção clara à respeito do Antigo e Novo Testamento, uma provável dúvida seria: “Por que Deus o Pai enviaria Jesus primeiramente à casa de Israel?”. Possivelmente algumas pessoas se contentariam com a explicação de que Jesus precisava cumprir as Escrituras, e de fato como o Messias prometido, tudo o que acerca Dele estava escrito precisava se cumprir.

Mas existe outra questão que está contida na expressão de Jesus Cristo quando se refere à Israel. Veja em Mateus 15:24, Ele diz: “ovelhas perdidas da casa de Israel” e também no Evangelho de Mateus 9: 36 conta que Jesus vê esse povo como “ovelhas que não tem pastor”. Sabemos que essas coisas foram ditas em território Israelense, sobre o judeu e para judeus (os discípulos).

Olhando para a Palavra de Deus, não consigo ver outra explicação senão a que Jesus, por compaixão de um povo perdido sem pastor, veio primeiramente a eles. Cristo conhecia o reino espiritual e se Ele considerava assim, sabia bem o que estava falando.

Então, conforme a parábola, é neste momento da história, quando Jesus vem à terra, que tudo muda de figura.

E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. Lucas 16:22,23  

Aqueles a quem a promessa de um Salvador foi feita, não quiseram Jesus – João 1: 11. Diante de um Messias pobre, pacificador, não envolvido com a política da época, nem com qualquer outro interesse terreno, este povo deu preferência às promessas que havia no Antigo Testamento amando o mundo e não o céu.

Não posso dizer que todos os judeus agiram dessa forma, pois os onze discípulos O receberam primeiramente, e depois outros a quem foi pregado o Evangelho também foram agregados à salvação.
                                                                            
Então aquele que era rico em vida, na sua morte foi ao Hades. Sabemos pela Bíblia que a salvação opera pela fé em Jesus Cristo, assim, não importa o quanto a pessoa viveu na lei, ou se ela era religiosa, se servia algum deus, se cometia boas ações. A salvação passa exclusivamente por Jesus (Atos 4:12), e os judeus O rejeitaram.

Já o mendigo, a Parábola diz que “morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão”. Considero duas mortes nesse trecho, a primeira que é a conversão onde o mendigo olha para o Salvador e recusa o mundo, e a segunda morte que vai trazer a figura de Abraão no lugar de Deus o Pai. Você pode ver esta relação em Hebreus 11: 17 a 19.

Lázaro é salvo por crer no Salvador, o povo gentio recebe Cristo como Senhor enquanto os judeus O desprezam. Mesmo sem promessas, Jesus alcançou os gentios e eles O receberam por fé. Agora já não há distinção de um povo escolhido e outro não, como está claro em Efésios 2: 14 e 15.

Agora cada um encontra-se em um lugar distinto. Tão rapidamente quanto diz na parábola pela expressão “erguendo os olhos”, o rico se viu no lugar onde há tormento. Já Lázaro foi levado pelos anjos ao céu. Não esperaram, nem dormiram.

E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Lucas 16:24

Neste versículo 24 vemos uma ligação entre esta parábola e a discussão entre Jesus e os judeus que não criam Nele relatada em João 8. O fato do rico chamar Abraão de Pai é a primeira indicação. Aqui, Jesus está mostrando claramente que está falando do judeu, pois eles se consideravam filhos de Abraão (João 8:33). Como se Cristo dissesse: “Vocês se acham filhos de Abraão, mas se não crerem em mim, vão terminar no Hades”( João 8: 24, 39 e 40).

Para que creiam, Jesus descreve os tormentos como fogo, sede e falta de água que, no inferno, enfrentarão os que não creram Nele. E mesmo depois de ter dito isso, eles continuavam desprezando o Salvador do Mundo. Mas qual seria a razão pela qual eles insistiam em não crer?

Receber Jesus Cristo significava romper com a lei, desligar-se do que lhes conferia status, muitos privilégios. Ora, desde garotos estes eram preparados para alcançar esta posição! Jesus significava viver diferente, se submeter a uma vida limpa não de aparência, mas em verdade. Para seguir Jesus era (e ainda é) necessário pagar um alto preço de despojamento. Os templos, o círculo de convivência, o respeito que as pessoas tinham pelas seitas judaicas, tudo isso e muito mais teria que ficar para trás para aquele que quisesse ouvir e reconhecer Jesus Cristo como seu Senhor.

E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos. Lucas 16:9.
Em outras palavras, “se desfaçam das riquezas terrenas para receber aquela que é eterna”.

Esse ato de vender as riquezas terrenas para adquirir as riquezas celestiais só faz sentido para aquele que ouve e atenta à Palavra de Deus. Aquele que não escuta atentamente não pode ter a certeza de que existe uma riqueza bem maior da qual vale a pena se desfazer de tudo aqui para ganhá-la. Sem essa certeza, como tomar tal decisão?

É por isso que o versículo seguinte completa o mesmo raciocínio: Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. Lucas 16:25

Estejamos atentos a estas palavras de Jesus que exemplifica com a decisão do judeu, mas que serve para todo aquele que age semelhantemente e embora tenha a Palavra à sua disposição, se despoja dela trocando-a por outros tesouros materiais e passageiros.

E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá. Lucas 16:26

Uma vez que uma pessoa fez sua escolha em vida, já está determinado o que encontrará na morte. Aquele que preferiu bens ou privilégios na terra à Jesus Cristo, será como aconteceu com rico por toda a eternidade. Mas se preferiu despojar-se e crer como Lázaro, também viverá como a parábola descreve para sempre. Não há chance de mudar durante a eternidade. É necessário ouvir a mensagem da salvação e do Salvador agora.

E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. Lucas 16:27-29


O rico pede à Abraão que envie Lázaro, estando morto, à casa de seu pai para falar que existe um inferno, que precisam se despojar, crer, etc. Então Abraão responde: eles tem a lei e os profetas. Os judeus tem a lei e não a ouve, eles tem os profetas e também não os ouve, porque tanto a lei como os profetas trazem as evidências suficientes que Jesus é o Messias prometido à Israel e mesmo assim eles não ouvem. Veja que, através dessa parábola, Jesus mostrou o que disse em João 5: 39 e 40: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam. E não quereis vir a mim para terdes vida.

E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite. Lucas 16:29-31

Jesus está dizendo aos judeus: “Eu vou morrer e ressuscitar, mas mesmo assim vocês não crerão em mim. Mesmo após a minha ressurreição não ouvirão. Esta é a prova de que vocês não atentam com sinceridade à lei e os profetas que de mim testificam”.

O povo judeu, amando a terra e as coisas aparentes seguiu uma religião vazia. Não viram a verdade que estava em Jesus Cristo, ou se viram, não se importaram. Mas a decisão de não crer, de não se despojar das coisas desta vida passageira estabelece um peso para a eternidade.

Que nós, possamos olhar atentamente para Cristo que é a verdade e fielmente segui-Lo como Ele nos ensinou.

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